Cúpula nacional destituiu a deputada distrital Paula Belmonte no início do ano, por posicionamento favorável ao ex-presidente Bolsonaro e pautas da extrema-direita. Favorito ao cargo é o ex-senador Cristovam Buarque
O Diretório do Partido Cidadania no Distrito Federal realiza, neste sábado (6), a partir das 10h, o congresso para a escolha da nova direção da sigla no âmbito local. A eleição ocorre após seis meses de intervenção, realizada pelo comando nacional, e deverá confirmar o ex-governador do DF e ex-senador Cristovam Buarque como novo presidente. O sufrágio ocorre após a ex-mandatária e deputada distrital Paula Belmonte ser afastada, por se posicionar favoravelmente a pautas ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a extrema-direita.
Historicamente o Cidadania vem de uma linha de esquerda, tendo antes sido o PCB e o PPS, sempre alinhados ao campo progressista. Entretanto, no Distrito Federal, desde as eleições de 2022 e a posse de Paula Belmonte na presidência regional, os posicionamentos passaram a ser de apoio aos movimentos que culminaram com a tentativa de golpe de 8 de Janeiro.
Por esse motivo, ainda no fim de 2023 e início de 2024, a cúpula nacional do Cidadania fez uma intervenção na legenda no DF e destituindo a distrital.
“Tivemos uma intervenção nacional, que elegeu uma comissão interventora. Nós assumimos o partido com a responsabilidade de realizar esse congresso e organizá-lo de novo. Em três meses reorganizamos 12 cidades, com novas zonais e seus delegados”, afirma o presidente-interventor Marcelo Aguiar, que garante que o Cidadania volta a ser uma legenda mais à esquerda e que a eleição será representativa.
Barbada
Até o momento candidato único, o ex-senador Cristovam Buarque garante que, se eleito, restabelecerá as origens ideológicas do partido. “Acredito que minha eleição será consenso. Havia uma posição ideológica e uma visão programática diferente do que historicamente tem o Cidadania. Não podíamos continuar assim, pois estávamos nos esmilinguando (sic). Houve avanços com a Paula Belmonte, mas precisamos resgatar os valores do passado, que tem origem nos partidos de esquerda”, afirma Cristovam.
Apesar dos elogios, o futuro de Paula no Cidadania parece estar decretado. Segundo o ex-senador, nenhuma medida será tomada contra a deputada distrital, entretanto, isso não garante que ela terá carta-branca para manter posicionamentos contrários às bandeiras da sigla. “Acredito que, com os posicionamentos que irei tomar, ela não permanecerá.”
Não foi chamada
Segundo a deputada Paula Belmonte, o Cidadania não fez a convocação de muitos dos quadros do partido com mais de 30 anos de sigla, entre eles a ex-vice-presidente Elaine Faria, Cláudio Venturino, Ezequiel Nascimento, Anderson Martins e Jorge Modesto. “Liguei para saber melhor sobre esse congresso e ninguém estava sabendo. É necessário cumprir algumas questões burocráticas, como os prazos. Não quero criticar, mas parece que está sendo feito às escuras”, declarou a ex-presidente da sigla. “Essas pessoas tem mais de 30 anos e são do diretório. Não sei se essa eleição terá validade. Não fui convocada e não vou.”
A distrital afirma que, no momento de suas declarações, o partido não tinha questão fechada sobre de que lado estava, por isso se posicionou. “Se você reparar, os deputados do partido não são da base do PT. Aqui tinha uma guerra interna de poder da velha guarda, e eu acabei entrando de gaiata”, desabafa. “As vezes tenho um pensamento diferente de outras pessoas, mas eu as respeito. Não sou bolsonarista, mas todo mundo é colocado em uma caixinha e fica um debate raso. Sou a única deputada distrital independente.”
“Não tenho nada contra o senador Cristovam. Ele é um quadro histórico do partido. Se o senador for eleito, da forma adequada, e legitimamente será bom. Mas espero que eles convidem todos para participarem”, completa a ex-presidente.
Mandato
Mesmo depois de sua destituição, devido aos seus posicionamentos contrários a ideologia da sigla, a deputada Paula Belmonte teve autorização para deixar o partido sem o risco de perder seu mandato por infidelidade partidária. Porém, não foi isso que aconteceu.
A deputada distrital continua filiada ao partido, porque o Cidadania faz parte de uma federação nacional juntamente com o PSDB, que elegeu a primeira suplente da parlamentar, a cantora e pregadora católica Crícia Martins.
Mesmo com a decisão do partido de Paula, de forma unilateral, de acordo com previsão legal da Justiça Eleitoral, Crícia pode pedir o mandato, sob a acusação de infração da lei.
“Ainda não há jurisprudência sobre esses casos que envolvem as federações. Por isso, estamos fazendo uma consulta ao TRE-DF (Tribunal Regional Eleitoral do DF), que depois será enviado para o Tribunal Superior Eleitoral. Não tenho a intenção de ficar no Cidadania, nem quero atrapalhar. O partido teve sua importância para mim”, afirma a parlamentar, que garante ter convites de outras siglas, mas aguardará o resultado da consulta.
Para o presidente regional do PSDB, Sérgio Izalci, o tucanato brasiliense não tem a intenção de pedir o mandato da distrital, mas não sabe se há a mesma pré-disposição por parte de Crícia Martins. “É algo que não temos como nos posicionar, porque ainda não aconteceu”, afirma. “Crícia é um quadro muito bom. Na primeira eleição, fez uma boa votação e é um quadro muito importante. Mas não temos essa informação sobre as intenções dela”, completa Sérgio Izalci.