Terceiro dia de viagem

Começamos o dia bastante cansados, mas seguimos para um dos pontos mais icônicos da África do Sul: a Table Mountain.

Essa montanha é tão imponente que pode ser vista a mais de 150 quilômetros de distância e funciona como um verdadeiro ponto de referência. Se alguém se perde, basta olhar para a Table Mountain para se orientar. Ao chegarmos, pegamos o bondinho, que sobe a 37 km/h e comporta mais de 60 pessoas. Lá de cima, a vista é simplesmente espetacular. Dá para ver toda a cidade, a baía e as regiões que, no passado, foram segregadas pelo Apartheid. Como mencionei no dia anterior, essa divisão foi tão profunda que, até hoje, as comunidades continuam separadas. Esse sistema cruel criou uma mentalidade de distinção que persiste, quando, na verdade, todos são parte de uma única raça: a humana.

Depois de apreciar a impressionante Table Mountain, seguimos de carro para os vales produtores de vinho. A África do Sul tem mais de 300 vinícolas, algumas das quais remontam ao século XVII, época da colonização inglesa e holandesa. Desde então, a produção de vinhos evoluiu muito e se tornou referência mundial.

No caminho, fizemos uma parada em uma fábrica de joias, onde aprendemos sobre a extração e lapidação de diamantes e tanzanitas. A tanzanita, aliás, é uma pedra mil vezes mais rara que o diamante, encontrada apenas em um único lugar no mundo: a Tanzânia. Geólogos estimam que, entre 2040 e 2050, suas reservas naturais podem se esgotar. Foi fascinante ver todo o processo de produção das joias, desde a lapidação das pedras até a confecção de anéis, brincos e colares.

Outra descoberta interessante no caminho foi a presença de vários estúdios de filmagem. Muitos filmes e séries que assistimos foram gravados aqui na África do Sul, e muitos atores e atrizes têm casas na região. Isso acontece não apenas pela beleza natural do país, mas também porque os estúdios possuem uma infraestrutura sólida. Séries como Black Sails e The Crown foram filmadas aqui, e há inúmeras outras produções que escolheram esse destino pela sua diversidade de cenários. Em um espaço relativamente pequeno, a África do Sul oferece praias, montanhas, dunas e diversas paisagens que permitem criar múltiplos cenários sem precisar viajar grandes distâncias.

Por curiosidade, quem quiser pode pesquisar sobre os filmes e séries gravados na África do Sul e, com certeza, ficará surpreso com a quantidade de produções feitas aqui. Antes dessa viagem, eu não imaginava que a indústria cinematográfica estivesse tão incorporada ao país. Pelo que sabemos, os países que mais produzem filmes no mundo são Índia e Estados Unidos, mas, quando falamos de cidades, Hollywood e Cidade do Cabo estão entre as que mais recebem gravações.

Seguimos, então, para os vinhedos, onde tivemos um almoço maravilhoso e exploramos algumas das pequenas cidades da região. São lugares muito organizados, mas com uma população reduzida – cerca de 20 mil habitantes em cada cidade.

No entanto, ao longo do trajeto, nos deparamos com a realidade mais dura da África do Sul. O país tem a maior taxa de desemprego do mundo, chegando a quase 40% da população sem trabalho. Passamos por favelas gigantescas, onde milhares – e às vezes milhões – de pessoas vivem em condições sub-humanas. Nessas comunidades, muitas ruas contam com apenas uma torneira de água por quarteirão, não há saneamento básico adequado, e os banheiros são químicos coletivos, limpos apenas uma vez por semana.

O que impressiona é o contraste. Apesar de tanta miséria, ao olhar para cima, vemos que quase todas as casas possuem TV a cabo. Um verdadeiro paradoxo que reflete as desigualdades profundas da região.

E assim, voltamos para o hotel com uma expectativa enorme, porque amanhã de manhã embarcamos para uma das partes mais esperadas da viagem: a savana africana. Lá, teremos a incrível experiência dos safáris fotográficos, onde iremos em busca dos Big Five – os cinco animais mais emblemáticos da vida selvagem africana.

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