Marcação, realizada pelo “Boletim dos Cientistas Atômicos”, é a mesma de 2023 e a mais próxima já registrada do fim dos tempos
O grupo de cientistas nucleares Bulletin of the Atomic Scientists atualizou o Relógio do Juízo Final (“doomsday clock”, em inglês) nesta terça-feira (23) e manteve a marca de 90 segundos para a meia-noite, a mesma de 2023.
O relógio avalia o quão perto a humanidade está de destruir o mundo. A lógica é simples: quanto mais perto da meia-noite estiverem os ponteiros do relógio, mais próximo estaria também o mundo do seu fim.
No ano passado, o grupo de cientistas anunciou pela primeira vez a marcação de 90 segundos para o fim do mundo, o mais perto que o Relógio do Juízo Final já chegou da meia-noite desde sua criação, em 1947.
Para 2024, os cientistas mantiveram a previsão.
“A guerra na Ucrânia e a dependência generalizada e crescente de armas nucleares aumentam o risco de uma escalada nuclear. A China, a Rússia e os Estados Unidos estão gastando enormes somas para expandir ou modernizar os seus arsenais nucleares, aumentando o perigo constante de uma guerra nuclear por conta de erros ou falhas de cálculo”, o Bulletin of the Atomic Scientists justificou a escolha.
As mudanças climáticas também foram citadas como justificativa: “Em 2023, a Terra viveu o ano mais quente de que há registo, além de inundações massivas, incêndios florestais e outras catástrofes relacionadas com o clima que afetaram milhões de pessoas em todo o mundo. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento rápido e preocupantes na área de ciências da vida e de outras tecnologias disruptivas se acelerou, enquanto os governos fizeram apenas débeis esforços para controlar isso.”
“No ano passado, expressamos nossa maior preocupação ao acertar o Relógio para 90 segundos para a meia-noite – o mais próximo da catástrofe global que já esteve”, disse o comunicado. “Hoje, mais uma vez acertamos o Relógio do Juízo Final para 90 segundos para a meia-noite, porque a humanidade continua a enfrentar um nível de perigo sem precedentes.”
E acrescentou: “A nossa decisão não deve ser tomada como um sinal de que a situação de segurança internacional melhorou. Em vez disso, os líderes e cidadãos de todo o mundo deveriam encarar esta declaração como um aviso severo e responder com urgência, como se hoje fosse o momento mais perigoso da história moderna. Porque pode muito bem ser.”
O que é o Relógio do Juízo Final?
O relógio é uma boa ideia de marketing para fomentar a discussão, mas não uma medição exata de quanto tempo ainda resta no planeta.
Apesar da explicação simples, a posição dos ponteiros do relógio é determinada por uma série de cálculos matemáticos complexos que medem a probabilidade real de eventos catastróficos acontecerem. Entre eles estão guerras nucleares, doenças epidêmicas e mudanças climáticas.
Quando a contagem começou, em 1947, o relógio estava a sete minutos da meia-noite. Em meio às tensões nucleares, o relógio chegou a marcar dois minutos para o fim do mundo em 1953. Com o fim da guerra fria, voltou para 17 minutos.
Mas o respiro durou pouco e ele voltou a marcar dois minutos no início deste século, com o avanço das mudanças climáticas e ameaças nucleares da Coreia do Norte. Em 2021 e 2022, o relógio chegou a marcar 100 segundos para a meia-noite, por causa da pandemia da Covid-19 e dos riscos de uma nova corrida armamentista.
Em 2023, o relógio marcou 90 segundos para a meia-noite, o menor tempo já registrado na história.
Por que o Relógio do Juízo Final foi criado?
O Bulletin of Atomic Scientists foi um grupo de cientistas atômicos que trabalharam no Projeto Manhattan, o codinome para o desenvolvimento da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial.
Originalmente, o relógio pretendia medir ameaças nucleares, mas em 2007 o Bulletin decidiu incluir as mudanças climáticas em seus cálculos.
Nos últimos três quartos de século, o tempo no relógio mudou, dependendo de quão perto os cientistas acreditam que a raça humana está da destruição total. Em alguns anos o tempo muda e outros não.
O Relógio do Juízo Final é definido a cada ano por especialistas do Conselho de Ciência e Segurança do Bulletin em consulta com seu Conselho de Patrocinadores, que inclui 11 ganhadores do Prêmio Nobel.
Embora o relógio tenha sido um alerta eficaz para lembrar as pessoas das crises em cascata que o planeta enfrenta, alguns questionaram a utilidade do relógio de 75 anos.
Lawrence Krauss, um ex-membro do Conselho de Patrocinadores do Bulletin, disse que, embora o tempo tenha passado desde que o relógio começou a contar, tem sido difícil levar os resultados a sério, já que nas últimas décadas chegou perigosamente perto do fim da civilização.
O que acontece se o relógio chegar à meia-noite?
O relógio nunca chegou a bater meia-noite, e Rachel Bronson, presidente e CEO do Bulletin, espera que isso nunca aconteça.
“Quando o relógio bate meia-noite, significa que ocorreu algum tipo de troca nuclear ou mudança climática catastrófica que acabou com a humanidade”, diz. “Portanto, não queremos chegar lá e não saberemos quando chegaremos”.
*Com informações da CNN Internacional